sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

COMÉRCIO DAS NANOCOMMODITIES

Na área dos materiais são grandes as novidades em nanopartículas inteligentes. Como exemplo, pode-se citar uma peça de roupa que pode reagir às mudanças climáticas mantendo sempre o corpo a uma temperatura pré- estabelecida. Além de repelir o suor e a poeira, não precisando ser lavada, que por sua vez impede que bactérias e vírus penetrem nela. Mas até que ponto o algodão, como commodity poderá ser afetada pela nanotecnologia? E as demais commodities, alcançarão que impactos sociais? 

            Com base nos dados do Grupo ETC (2005, p. 86/94), não é a primeira vez que novas tecnologias ameaçam eliminar as commodities de produção primária nos países do hemisfério sul do globo. Na década de 80 a biotecnologia foi à grande promessa para a transferência de muitas commodities tropicais para instalações no hemisfério norte, no entanto, o objetivo não foi alcançado dada a qualidade inconsistente e o custo de produção.

            Ainda baseando-se nos dados do Grupo ETC, serão analisados os aspectos tecnológicos e sociais em duas grandes commodities: o algodão e a borracha.

            No que se refere às nanofibras de algodão, a maior empresa mundial encontra-se nos Estados Unidos, a Nano-Tex, onde 51% de suas ações pertencem à Burlington Industries que em seus dias de glória foi a maior empresa têxtil do planete, no entanto, em 2001 entrou em falência. Quando foi comprada em 2003, a empresa investiu em nanotecnologia para alavancar e se recuperar, sendo que até 2005 a Nano-Tex havia licenciado a sua tecnologia para 40 tecelagens e seus nanotecidos incorporados com sucesso em roupas das mais conhecidas marcas mundiais (Eddie Bauer, Lee, Gap, Old Navy e Kathmandu).

            A empresa desenvolveu sua tecnologia de modo que os nanofilamentos aderissem às fibras têxteis usando “nanoganchinhos”. Esses filamentos por sua vez impedem que os líquidos penetrem nos tecidos tornando-os resistentes as manchas. Em um segundo momento, desenvolveu a tecnologia tentando reunir as qualidades dos tecidos sintéticos e do algodão natural (por exemplo a textura e a capacidade de absorção de umidade do algodão com a leveza e a secagem rápida dos sintéticos).

            Mas afinal o que está em jogo nessa commodity? O algodão é cultivado em mais de 100 países, sendo que 35 dos 54 países africanos produzem algodão. Mais de 100 milhões de famílias estão ocupadas diretamente neste tipo de produção.

            Como commodity, o algodão não foi bem nos últimos tempos. Um século de declínio no preço ocorreu em decorrência das fibras sintéticas mais baratas que tomaram grande fatia do mercado. Estima-se que o uso total de fibras chegue a quase 60 milhões de toneladas em 2010, sendo que, a demanda por fibras artificiais vem crescendo duas vezes mais rápido.

            Em relação a segunda commodity, a borracha, é produzida em sua forma natural basicamente por produtores do hemisfério sul, em países como Índia, Indonésia, Tailândia, e Malásia. Sendo que esse último responde por mais 1/3 da borracha natural mundial, onde 90% provém de unidades de produção com menos de 4 hectares, com 6 milhões de agricultores diretamente envolvidos.

            Muitos dos principais fabricantes de pneus tem misturado pequenas nanoparticulas à borracha para aumentar a resistência dos pneus e reduzir seu desgaste. Cabot, uma das líderes mundiais na produção de borracha para pneus, testou com sucesso nanoparticulas de carboneto de sílica “PureNano”, desenvolvidas por Nanoproducts Corporation of Colorado, que adicionadas aos pneus reduziram a abrasão em quase 50%, trazendo uma durabilidade de pelo menos duas vezes mais aos novos pneus.

            De acordo com o Grupo ETC (2005, p. 96/100), à medida que a produção de nanomateriais aumenta novos métodos de produção estão abrindo novos mercados. Cientistas da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, estão testando novos métodos para fabricar nanoturbos de carbono a partir de etanol de milho.

            No futuro as nanoparticulas industriais poderão não serem produzidas em laboratório, mas em áreas de cultivos geneticamente engenheirados, o que poderia ser denominado “cultivo de partículas”.

            Ainda é cedo para mapear com segurança a forma como a economia em nanoescala irá se expandir ou como alterará a produção de commodities agrícolas tradicionais, a única certeza é que isso irá se consolidar. A questão aqui é que esta nova onda tecnológica trará perturbações socioeconômicas, para a qual a sociedade encontra-se mal preparada e esclarecida.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

CARTA ESCRITA EM 2070

CARTA ESCRITA EM 2070

"Crónicas de los Tiempos" de Abril de 2002.

Estamos no ano de 2070, acabo de completar 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais porque bebo muito pouca água. Creio que me resta pouco tempo.
Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade. Recordo quando tinha 5 anos. Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro com cerca de uma hora. Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira. Agora devemos rapar a cabeça para manter limpa sem água.
Antes o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma. Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDA DA AGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais se podia terminar.
Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aqüíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo. A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.
A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.
Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrintestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.
A industria está paralisada e o desemprego é dramático.
As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-te com água potável em vez de salário.
Os assaltos por um bidão de água são comuns nas ruas desertas.
A comida é 80% sintética. Pela ressiquidade da pele uma jovem de 20 anos está como se tivesse 40.
Os cientistas investigam, mas não há solução possível.
Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como conseqüência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137 m3 por dia por habitante e adulto.
A gente que não pode pagar é retirada das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, não são de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade média é de 35 anos.
Em alguns países ficaram manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exercito, a água tornou-se um tesouro muito cobiçado mais do que o ouro ou os diamantes.
Aqui em troca, não há arvores porque quase nunca chove, e quando chega a registar-se precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelas provas atômicas e da industria contaminante do século XX.
Advertia-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso.
Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, lhe falo da chuva, das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o saudável que era a gente.
Ela pergunta-me: Papá! Porque se acabou a água? Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que terminou destruindo o meio ambiente ou simplesmente não tomamos em conta tantos avisos.
Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na terra já não será possível dentro de muito pouco porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.
Como gostaria voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto quando ainda podíamos fazer algo para salvar o nosso planeta terra!"
Recomenda-se o vídeo disponível em: http://www.%20youtube.com/watch?v=zHQM3Fn9suA.