sábado, 18 de abril de 2009

Em busca da felicidade


Ela é possível? Como encontrá-la? O sociólogo Zygmunt Bauman vai atrás das respostas, não garante solução mágica, mas tem ricas definições sobre um dos temas centrais da nossa existência no livro “A Arte da Vida”

Zygmunt Bauman, 83 anos, vive com medo, diferente do nosso, porém com um medo real. Não mora em casa gradeada, mas teme o terrorismo no interior da Inglaterra onde reside. Está relativamente distante da violência urbana, porém a exclusão, estrangeiro em solo que não é o seu, o inquieta. Como nós, talvez tenha sofrido por amor. Como milhões de outros exilados, precisou deixar a sua Polônia natal correndo, quando a ex-URSS anexou o país, e depois peregrinou como professor (de futuro escancarado, mas incerto) por Canadá, Estados Unidos, Austrália e Grã-Bretanha.Em Medo Líquido (Zahar, 240 páginas, R$ 30), lançado em 2006, ele fez um inventário dos distintos, nada distantes, medos contemporâneos. Classificou o medo como uma das marcas mais visíveis do nosso tempo. No Brasil, o terror nos cerca e nos afoga. Basta pisar fora do primeiro degrau da nossa escada particular na tentativa de chegar ao shopping-center mais próximo. O medo está no ar. Surpreendente como o vôo de uma asa-delta.Sociólogo, pensador, escultor de ideias, saudado como o profeta da pós-modernidade, Bauman, sem a capa superpoderosa dos destemidos, volta ao livro com uma nova e poderosa interrogação: quem tem medo da felicidade? Eu, você leitor, todos somos tentados a buscar a respostas no mais recente livro do escritor lançado no país, A Arte da Vida (Jorge Zahar Editor, 184 páginas, R$ 29,90).Só que o pensador não entrega a bula, não programa o GPS. Ele próprio não sabe.Ele deseja apenas que você pense um pouco mais, reflita e que as frases modelares do livro sirvam como molas para uma ação imediata do leitor. Bauman é um provocador notório. Das suas certezas e incertezas, fica uma verdade que poderia ocupar a capa do livro de 2008 em letras maiúsculas, “quando se trata de felicidade nada pode ser definitivo”.Sua pergunta inicial é simples e direta: “O que há de errado com a felicidade?” Suas tentativas de respostas são mais complexas e nada definitivas. Bauman pede ajuda à teoria do caos, lembra de Sêneca e de Nietzsche, entra na internet, navega no MySpace, esmiuça princípios econômicos e se debruça no fracassado final da História de Fukuyama. Cita Robert Kennedy e seu ataque frontal a felicidade valorizada a partir do PNB (“o Produto Nacional Bruto mede tudo, menos o que faz a vida valer a pena”) e descobre, seguindo o cortejo da socióloga Hanna Swida-Ziemba, que “as pessoas de gerações mais antigas se colocavam tanto no presente quanto no futuro”. Ao jovem contemporâneo, por seu lado, só o presente existe.O sociólogo polonês de cabeça planetária conecta nosso olhar em qualquer canto ao lembrar, junto com o professor Michael Rustin, que “sociedades, como as nossas, estão se tornando mais ricas, mas não está claro se estão se tornando mais felizes”.No auge do seu agora arranhado império, o norte-americano dizia não haver relação alguma entre mais riqueza, considerada o principal veículo de uma vida feliz, e maior felicidade. Pelo contrário. A felicidade por eles declarada era menor. A felicidade encontrava no medo (elevadas taxas de criminalidade, suborno, corrupção, tráfico de drogas), uma barreira compacta e intransponível.Bauman usa régua própria, mede e diz que “um estado de felicidade muda constantemente” e sua incessante busca ocupa uma parte essencial da nossa vida. A felicidade é como uma montanha-russa, de altos e baixos, e é feita de pequenos e intensos momentos. Lá em cima, lá no pé. Bauman sugere que é preciso dobrar o valor dos pequenos e simples gestos para escalar o topo. Demorar-se numa mesa de jantar, pratos criados em casa, ao contrário de se enfiar na mesa apertada e barulhenta do restaurante mais próximo e contentar-se com uma comida feita em série e com gosto de plásticos. Bauman não faz sociologia de auto-ajuda. Ele só acena com algo. Provoca. Atiça.

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