sábado, 18 de abril de 2009

O FINANCIAMENTO

A natureza se apresenta um paradoxo conflituoso em nosso mundo, pois no mesmo momento que serve como fonte de bem estar, igualmente, serve como base de produção e reprodução econômica, inexistindo um denominador comum entre ambos e sim um sistema inclusão e exclusão, ou seja, ambas não coexistem, levando-se em consideração a atual necessidade humana de expansão produtiva.

Embora a crise econômico-financeira atual motive preocupação, as crises ocasionadas pela reação da natureza – denominada crise ambiental[1] - aumentam na mesma freqüência, sendo que suas conseqüências por muitas vezes são irreversíveis, ao contrário daquela, como podemos observar com a recente tragédia ocorrida em Santa Catarina ou mesmo a de Nova Orleans. Lembre-se que para haver economia, primeiramente necessitamos ter recursos, ou seja, matéria prima e energia e como bem observamos, ambos originam-se da natureza e por assim ser, o suprimento é finito[2]. Dessa forma, não há como separar a crise econômica da ambiental.

O digníssimo professor José Rubens Morato Leite[3], indaga que há muita invisibilidade e imprevisibilidade nas questões ambientais, pois nem sempre se sabe quais serão as conseqüências e a extensão de um dano ambiental, enfatizando que a crise ambiental é incontestável e é a conseqüência da sociedade de risco[4] na qual se vive.

A crise ambiental[5] tem por bases anseios de indeterminações e constantes mutações, quais por muitas vezes não são vislumbradas pelo homem, ou seja, ele apenas sofre as conseqüências ocasionadas pelas suas próprias atitudes, substituindo o seu questionamento ou mesmo reflexão por conhecimento, idéias absolutas e práticas sobre seu eu e a natureza, agindo como uma máquina de consumo.

Jacobs[6] ao comentar as novas teorias da modernidade, descreve três tendências socioeconômicas que a alicerçam: “globalização e a emergência da economia “movida pelo conhecimento”, a “individualização e a ascensão da “reflexibilidade”; e o crescimento da desigualdade” A primeira ele classifica como sendo uma tendência que está intimamente relacionada ao “saber” que gera o poder econômico; a segunda tendência relacionada ao “homem máquina”, na qual a relações estabelecidas entre as pessoas são práticas e instrumentais, adquirindo sentimento de autonomia em relação ao que podem ou não fazer; e a terceira tendência, que está implicitamente relacionada às demais, refere-se às desigualdades apresentadas entre regiões, em face da internacionalização da economia.

A discussão mundial se restringe a seguinte questão: que correções importam fazer para manter as bases fortes do capitalismo e regular os mercados? Quanto podemos ganhar com o menor investimento e no lapso temporal mais curto? Muito bem, mas isso tudo tem um preço ou a natureza financia? Sim, estamos na era dos financiamentos, créditos facilitados e com longo prazo para quitação, porém, o débito vem sendo pago com vidas. A crise é terminal e não possui sequência cíclica. O credor é cruel!

[1] A crise ambiental apresenta-se a nós como um limite real que ressignifica e reorienta o curso da história: limite de crescimento econômico e populacional; limite dos desequilíbrios ecológicos e das capacidades de sustentação de vida; limite de pobreza e da desigualdade social [...] LEFF, Enrique. Episteomologia ambiental. Trad. de Sandra Valenzuela. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002, p.191.
[2] Como refere Leonardo Boff , “há sinais inequívocos de que a Terra não agüenta mais esta sistemática exploração de seus recursos e a ofensa continuada da dignidade de seus filhos e filhas, os seres humanos, excluídos e condenados, aos milhões, ao morrer de fome” [...] “A mãe Terra é um ser vivo que vibra, sente, intui, trabalha, engendra e alimenta a todos os seus filhos e filhas” . BOFF, Leonardo. Em busca de sabedoria ecológica. Disponível em http://www.franciscanos.org.br/ecologia/agua/artigos2008/20.php. Acesso em: 22 dez.2008.
[3] LEITE, Rubens Morato. Direito Ambiental Contemporâneo, ed. Manole, 2004, p. 205-246
[4] No sentido de uma teoria social e de um diagnóstico de cultura, o conceito de sociedade de risco designa um estágio da modernidade em que começam a tomar corpo as ameaças produzidas até então no caminho da sociedade industrial. Beck, U. A Reinvenção da Política. Em: Giddens, A., Beck, U. & Lash, S.: (Orgs.). Modernização Reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna . São Paulo: UNESP, 1997, p.17.
“Ainda que Beck não se detenha em definições detalhadas do que se entende por risco, com este conceito ele abrange os ecológicos, químicos, nucleares e genéticos, produzidos industrialmente, externalizados economicamente, individualizados juridicamente, legitimados cientificamente e minimizados politicamente (BECK, 1992). Eles podem trazer conseqüências incontroláveis, sem limites espaciais, temporais ou sociais, apresentando, assim, sérios desafios às instituições dedicadas a seu controle. Em síntese, trata-se de riscos com efeitos globais, invisíveis e, às vezes, irreversíveis” GUIVANT, Julia. A trajetória das análises de risco: da periferia ao centro da teoria social. Revista de Informações Bibliográficas – ANPOCS, n. 46, 1998, p. 20.
[5] [...] a crise ambiental leva-nos a interrogar o conhecimento do mundo, [...] corporifica um questionamento da natureza e do ser no mundo, com base na flecha do tempo e na entropia vistas como leis da matéria e da vida, com base na morte vista como lei limite na cultura que constitui a ordem simbólica do poder e do saber. [...] A complexidade ambiental inaugura uma nova reflexão sobre a natureza do ser, do saber e do conhecer, sobre a hibridização de conhecimentos na interdisciplinaridade e na transdisciplinaridade; sobre o diálogo de saberes e a inserção da subjetividade, dos valores e dos interesses nas tomadas de decisão e nas estratégias de apropriação da natureza.” LEFF, op. cit.
[6] JACOBS, Michael. O meio ambiente, a modernidade e a terceira via. In: GIDDENS, Anthony (org). O debate global sobre a terceira via. São Paulo: UNESP, 2007. p 455.

Nenhum comentário: